sábado, 19 de junho de 2010

Drama d'um músico

A pior dor que pode existir
é a de olhar pra um instrumento
e não saber tocar.

Veja por exemplo o piano:
um dia ainda aprenderei piano.
O movimento das mãos...
parece que tomam vida,
que agem por si sós.
Como se os sentimentos
pudessem ser transmitidos e sentidos
nas pontas dos dedos.

Já viu um violão em cima de uma estante
ou mesmo parado, ali, no canto da sala?

É como uma dama que espera pelo beijo
do amado para retomar o ar da vida.
Não faz nenhum sentido.
Um violão largado no canto é só um pedaço
de madeira como uma árvore sem vida.

Madeira que quando cria forma,
nas mãos do construtor,
vira violão, viola, violino,
que nas mãos do músico
se transforma em poesia,
em dor, em amor,

Quando imagina que da madeira seca,
sem vida,
se criaria sentimento
num mundo de surdos e cegos,
que não precisam de olhos nem ouvidos
para viver encanto.

Ah, mas quando ela toca.
Passo todos os dias na janela daquela moça.
Não entendo o porquê da suavidade
Tamanha com que ela sopra aquela flauta.
Sua embocadura é como o momento que antecede o beijo.
O olhar fixo à partitura a faz ter a atenção de um tigre que espera o momento
certo para atacar a presa.

E ela sopra...
Inspira, retoma seu ar...e sopra.
Como eu queria tocá-la...
Ironia da vida, drama dum músico.


(Aline Tortelli e Jhone Carlos)

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